Páscoa e a Comunhão – A Última Ceia do Mestre entre nós:
|Uma inspiração me fez meditar sobre a natureza da comunhão. E meu pensamento foi levado a pensar sobre isso:
Os últimos 3 anos tinham sido intensos. Incansável e ao mesmo tempo cuidadoso em manter-se centrado, nas noites Jesus se entregava à oração, à sua conversa com Seu Divino Pai, ouvindo e preparando-se para os inevitáveis combates que Sua missão lhe destinou.
Os acontecimentos das últimas semanas foram se intensificando, e o ódio à mudança de paradigma que Sua Doutrina trouxe era evidente. Paciente e exaustivamente, havia deixado claro que ele não havia vindo mudar a lei, mas aperfeiçoá-la.
Os milagres que fazia acompanhavam suas palavras, provando a veracidade delas.
A boa árvore dá bons frutos. Pelos frutos conhecereis os verdadeiros profetas.
O dono da vinha enviou seu próprio filho, mas eles o mataram…
Bem, a cegueira dos que tinham o poder religioso na época já havia determinado que ele teria que morrer…
O castigo para quem se aventurasse a proclamar-se filho de Deus era a crucificação. Prática comum naqueles dias, os criminosos comuns também tinham esse triste fim.
Ele sabia que seria esse o seu destino. Mas talvez no fundo guardasse uma esperança de que algo superior impedisse sua morte.
Depois da Ceia, orando no Gethsemani, diria essas palavras:
“Pai, afasta de mim esse cálice. Não se faça porém a minha vontade, mas a sua…” Mc 14, 36
Meditou sobre isso na noite anterior. Mas apesar da gravidade do que se anunciava, sua preocupação maior era deixar seu mais precioso legado: a lição final, o fechamento de ouro de sua missão: explicar como entrar pela porta estreita e como manter-se em comunhão com o Reino de Deus, que está dentro de nosso coração.
“Aquele que me ama guarda minhas palavras. Permanece em mim e eu nele. E meu pai e eu viremos e faremos morada em seu coração”. Lc 22, 18
“Eu sou o pão que desceu do céu”. “ Aquele que crer em mim não viverá em trevas, mas terá a Luz da vida”.
Sua Última Ceia entre nós
Pensou em cada detalhe no preparo da sala onde iria desenrolar-se essa noite essencial para que nada se perdesse de todo seu trabalho.
Durante a última ceia, seus atos e palavras deixaram a essência de sua pedagogia.
Ao lavar os pés de seus discípulos nos deixou a lição de humildade constante para nos mantermos em união, “em comunhão”.
Quem quiser ser o maior, permaneça na humildade.
Já sentados em volta da mesa, com Jesus ao centro, tomou o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim”. Do mesmo modo tomou também o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que é derramado por vós…” Lc 22 -19, 20
E assim nasceu o ritual da comunhão: “Fazei isto em minha memória”. Lc 22, 18
Como sempre, usou de simbologia, o meio mais seguro de não deturparem seus ensinamentos. Conhecedor do que havia no homem, e que ninguém é bom, senão só Deus, sabia que era necessária muita sabedoria, ser prudente como as serpentes, para que isso não acontecesse.
Portanto, comparou o pão, alimento do corpo, com seu corpo, que iria ser destruído pelos hipócritas que, cegos, não podiam compreender que ele já era imortal: destruam esse templo, e eu o reconstruirei em 3 dias.
O pão e vinho são alimentos milenares. E no início de sua missão já havia dito que “nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”.
E ainda, “aquele que me ama, medita em minhas palavras”.
Muitos se preocupam em explicar a escolha do pão e do vinho com seus respectivos simbolismos e se esquecem do principal:
Quem não se alimenta de sua carne e de seu sangue, isto é, não se alimenta de suas palavras e do espírito que as move, não comunga com a vida verdadeira que ele revelou para nós.
O sangue é universalmente considerado o veículo da vida.
E, por analogia, da alma também que habita o corpo mantido pelo sangue.
(Dicionário de Símbolos, Jean Chevalier/Alain Gueerbrant, Ed. José Olympio)
Amai-vos como eu vos amei.
O caminho é esse: conhecê-lo, meditar sobre ele, seus ensinamentos, amá-lo com todas nossas forças, com todo o nosso entendimento e de todo o nosso coração. E tudo estava claro: o mundo o aborreceu, iria aborrecer também a nós. Ninguém é profeta em sua própria terra e entre os seus.
É um caminho muito estreito mesmo.
Poucos entram por ele.
Nós escolhemos o caminho quando nos dedicamos a amá-lo dessa forma.
Em nosso coração vive o Reino de Deus, que nos une a todos que estão nele. Estamos ligados por fios invisíveis que nos alimentam, independente de tempo e de espaço. Somos Um em Deus Pai-Mãe Criador.
Pureza de intenção, humildade e amor a Deus acima de todas as coisas, nos mantém em comunhão.
Como Judas, alguns são convidados para entrar, porém não conseguem alcançar a transcendência e só veem o corpo: o corpo que para nada serve se o espirito não vivificá-lo.
Hoje, muito poucos se empenham de fato a amá-lo e permanecer nele.
Nestes dias, “Mas, quando o Filho do Homem voltar, encontrará alguma fé sobre a Terra?”
Amar é estar em comunhão.
Comunhão com o Céu que nos envolve, com a Terra que nos acolhe.
E com todos os que buscam manter-se na Luz e na profunda reverência diante da verdade de que temos como origem o mesmo Criador.
A paz do coração repousa aí.O Amor que permeia a vida em que nos inserimos é uma teia finíssima, que nos envolve como uma membrana de proteção.
Manter-se nele é ter o coração sempre preenchido, alimentado pela teia invisível da comunhão de almas que permanece nele, independente de tempo e de espaço.
Na Nova Era que entramos, não há espaço para o espírito de competição.
Mas de admiração e de respeito à diversidade das naturezas.
A alegria sincera pelas belezas das vidas que nos cercam e respeito e compaixão pelos processos que cada um de nós passa para a evolução a que todos somos chamados é estar no Amor.
É comungar com as forças da Vida. É caminhar juntos.
O espírito de competição e de crítica nos afasta da beleza da união. Nos excomunga da Vida.
Stela Vecchi